scholarly journals O relato de história de vida à luz do pensamento de Walter Benjamin: contribuições aos estudos de identidade

2020 ◽  
Vol 31 ◽  
Author(s):  
Alfredo César da Veiga ◽  
Cecília Pescatore Alves

Resumo O relato de história de vida não é, como muitos pensam, uma metodologia de fácil aplicação, pelo menos em se levando em consideração o pensamento de Walter Benjamin, para quem a história não é simples relato de fatos, mas um encadeamento de experiências que nem sempre podem ser expressas sem correr riscos que, em grande medida, prejudicam ou violentam a consciência do indivíduo que faz do relato um meio para encontrar “redenção” (Erlösung) de experiências do passado marcadas de sofrimentos. Acrescente-se a isso o fato de que, segundo o autor, com a modernidade, perdeu-se a capacidade tanto de contar quanto de ouvir experiências de vida. O texto trabalha essas questões, além de buscar contribuir com os estudos sobre identidade, na perspectiva da psicologia social crítica, que utiliza o método de relato de história de vida.

2013 ◽  
Vol 12 (25) ◽  
pp. 189
Author(s):  
Cláudio Márcio Oliveira

Este trabalho é uma síntese de Tese de Doutorado, defendida junto a Faculdade de Educação da UFMG em 2011, e aborda a experiência formativa dos deslocamentos urbanos de trabalhadores pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. Como pressuposto fundamental deste estudo defende-se a idéia de que os deslocamentos urbanos não são apenas um hiato ou um simples ato funcional, mas constituem processos de subjetivação e experiência das pessoas que se deslocam pela cidade. Neste sentido, tomo como conceitos fundamentais para a realização da investigação as idéias propostas por Walter Benjamin de Experiência (Erfahrüng) e Vivência (Erlebnis) para compreender a construção de sensibilidades nas tramas da cidade. Conceito de Experiência que, por sua vez, mantém vínculo indissociável com as narrativas produzidas pelos sujeitos pesquisados. O material empírico constituiu-se de três tipos diferentes de fontes. A primeira delas trata-se da observação participante dos deslocamentos de quatro trabalhadores residentes na cidade de Belo Horizonte (mais particularmente na região do Barreiro), com ênfase no ato de caminhar e nos usos cotidianos do transporte coletivo. O segundo conjunto de fontes de análise tratou de dois suportes letrados presentes nos ônibus que circulam pela cidade de Belo Horizonte: o “Jornal do Ônibus” e os “Quadros de Horários”, entendidos neste estudo como portadores de representações acerca de como os usuários de ônibus se apropriam da cidade. A terceira parte do material empírico foi composta de entrevistas semi-estruturadas, nas quais se buscou elementos da história de vida dos sujeitos, suas relações com a cidade de Belo Horizonte ao longo dos tempos e suas percepções acerca do cotidiano do deslocar-se pela cidade. De posse destas fontes, a experiência do deslocar-se pela cidade foi analisada a partir dos seguintes eixos: as relações que sujeitos estabelecem com os múltiplos tempos da cidade; os usos e percepções do espaço do ônibus; as relações que os sujeitos estabelecem com os estranhos que se apresentam nas viagens; o lugar do corpo e das sensibilidades nos deslocamentos. As experiências dos trabalhadores pesquisados suscitaram um conjunto de pautas de reflexão e ação. Entre elas, destaco a necessidade de se tratar a temática da velocidade como questão pública junto aos processos sociais; o questionamento dos critérios de funcionalidade que orientam o provimento do transporte público em Belo Horizonte; e principalmente, uma necessária abertura para a dimensão estética dos deslocamentos urbanos, condição fundamental para a construção de uma cultura pública de encontros que materialize o Direito à Cidade aos seus habitantes.


2017 ◽  
Vol 29 (0) ◽  
Author(s):  
Aluísio Ferreira de Lima ◽  
Antonio da Costa Ciampa

Resumo O objetivo deste ensaio é discutir as vicissitudes da narrativa para a compreensão das metamorfoses da identidade. Para tanto, parte-se de uma breve exposição do contexto ao qual a narrativa pertence, assinalando seu potencial na construção, reconstrução e reinvenção do passado e do futuro. A seguir, são exploradas as críticas direcionadas à figura do narrador que estaria em vias de extinção, conforme diagnosticado por Walter Benjamin, e apresentadas contribuições que permitem justificar o interesse contemporâneo das Ciências Humanas, sobretudo da Psicologia Social, pela “virada narrativa”. Apresenta-se a influência do método de história de vida e da narração na Psicologia Social, assim como a importância destes no desenvolvimento da concepção de identidade enquanto metamorfose por Antonio Ciampa, em meados de 1980. Por fim, são abordados alguns desafios e cuidados no uso de narrativas na pesquisa em Psicologia Social, oferecendo uma proposta crítica de pesquisa da identidade enquanto metamorfose.


2017 ◽  
pp. 93-105
Author(s):  
Barbara Heller ◽  
Priscila Ferreira Perazzo

Resumo Investigamos como as memórias transitam de uma mídia a outra, partindo, em ordem cronológica, do texto da memória (manuscritos e relatos orais) de Ingrid Koster para o texto do livro, Ingrid, uma história de exílios, publicado em 2010. Verificamos as adaptações, silenciamentos e acréscimos na construção dos textos da memória no livro, comparando-os nas diferentes mídias. Mostramos que as memórias e seus suportes midiáticos, cada vez mais deslizantes, são atravessados por esses acréscimos imaginados e documentados e por supressões de natureza emocional e política. Edward Said, com “exílios”, Lucia Santaella, com “cultura midiática” e “deslizamentos”, Beatriz Sarlo, com “memória” e “testemunha”, Walter Benjamin, com “narrativa e cura” dão sustentação teórica à análise.


Palíndromo ◽  
2018 ◽  
Vol 10 (22) ◽  
pp. 64-90
Author(s):  
Camila Rodrigues Moreira Cruz

 Esse artigo narra os últimos meses de uma estada de oito anos em território francês. A trajetória de uma artista e pesquisadora em artes visuais são aqui confrontadas à sua experiência exílica, vinculadas ao estudo do eu, ao reconhecimento do outro na formação do sujeito. À partir da análise de obras de artistas e obras pessoais, o texto confrontará história de vida, retratos e autorretratos, biografias e autobiografia vinculados à pesquisa teórica em torno da experiência do exilio, segundo  Alexis Nouss e Walter Benjamin.    


2017 ◽  
Vol 95 ◽  
Author(s):  
Detlev Schöttker

PARTE DO PREÂMBULO AO ARTIGO:O presente artigo mostra de modo sutil como o fato aparentemente secundário e muitas vezes esquecido de que um autor tenha atuado ele mesmo como tradutor pode determinar o próprio modo de apropriação do acervo da tradição literária, sobretudo por parte de um escritor moderno. De fato, é graças também à experiência de traduzir a obra de Marcel Proust em colaboração com Franz Hessel que Walter Benjamin se torna cada vez mais consciente de seu método da incorporação velada da obra de escritores do passado. Trata-se certamente de uma espécie de memória interna da literatura que opera, tanto na obra das Passagens, quanto na Crônica Berlinense e na Infância em Berlim por volta de 1900, com a apropriação benjaminiana de elementos, entre outros,  da obra de Wilhelm Raabe, A Crônica da Rua dos Pardais, uma obra considerada por Otto Maria Carpeaux como verdadeiro idílio urbano alemão - uma evidente contradição em termos, naturalmente. Em tempos de uma pós-modernidade que se apresenta como renovada e insistentemente tardia, é urgente o exame de tais sutis mecanismos de reescrita e reelaboração literária para desvendar seu nexo com operações de caráter  fundamentalmente translatício.


2019 ◽  
Vol 41 (6) ◽  
pp. 145-184
Author(s):  
Ji-man Kim ◽  
Sun-young Lee ◽  
Dae-hyun Lee
Keyword(s):  

2010 ◽  
Vol 3 (2-3) ◽  
pp. 238-262
Author(s):  
Virgil W. Brower

This article exploits a core defect in the phenomenology of sensation and self. Although phenomenology has made great strides in redeeming the body from cognitive solipsisms that often follow short-sighted readings of Descartes and Kant, it has not grappled with the specific kind of corporeal self-reflexivity that emerges in the oral sense of taste with the thoroughness it deserves. This path is illuminated by the works of Martin Luther, Jean-Luc Marion, and Jacques Derrida as they attempt to think through the specific phenomena accessible through the lips, tongue, and mouth. Their attempts are, in turn, supplemented with detours through Walter Benjamin, Hélène Cixous, and Friedrich Nietzsche. The paper draws attention to the German distinction between Geschmack and Kosten as well as the role taste may play in relation to faith, the call to love, justice, and messianism. The messiah of love and justice will have been that one who proclaims: taste the flesh.


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