Um equilibrista na ponte: a experiência-limite de Kafka
Maurice Blanchot descobriu na literatura, por meio da experiência insólita de autores como Franz Kafka, como o processo de criação literária pode colocar em crise a soberania daquele que escreve, destitui-lo de si e do mundo. Essa experiência-limite é atravessada pela loucura, não como fato social, mas como experiência trágica, em que o movimento da escritura se torna vizinho da morte, do vazio e do colapso do autor. O conto “A ponte”, ou a imagem que ele porta, remete a outros textos de Kafka e permite apontar para uma mesma situação: a experiência -limite vivida por ele. Este conto é aqui interpretado como uma grande metáfora com, pelo menos, duplo sentido: como metaficção e como transfiguração da experiência-limite de Kafka.