Os romances Alice’s Adventures in Wonderland (1865) e Through the Looking-Glass and What Alice Found There (1871), ambos de autoria de Lewis Carroll (1831-1898), tiveram êxito estrondoso desde o momento de seu lançamento. Conforme relata Carolyn Sigler (2015), os livros já figuravam entre os favoritos das crianças vitorianas no final do século XIX e, hoje, configuram-se como as obras mais citadas depois da Bíblia e das peças de Shakespeare. Seu sucesso inicial foi imediatamente sucedido por uma diversidade de hipertextos que responderam e celebraram os livros de Carroll. Dentre eles, destaca-se o conto “Amelia and the Dwarfs”, de autoria de Juliana Horatia Ewing (1841-1885) e publicado em 1870, na Aunt Judy’s Magazine, revista dedicada ao público infantil. Este artigo busca fornecer uma possibilidade de leitura dessa obra, sobretudo a partir de seu discurso de duas vozes (GILBERT; GUBAR, 2020): se, superficialmente, a narradora apresenta uma história consonante à moralidade que marcava as histórias infantis da época; numa camada mais profunda, manifesta-se uma protagonista que vence as desventuras através de sua sagacidade e capacidade de dissimulação. Justifica-se esta contribuição a partir dos pressupostos da crítica feminista, que busca redescobrir escritoras não-canônicas e propor novas leituras de textos considerados menores ou de pouca importância na história da literatura (PAUL, 1997).