Uma das dimensões do jogo de xadrez é sua inserção em escolas, às vezes como disciplina obrigatória, às vezes opcional, por parte do aluno, no contraturno. Dentre os argumentos mais comuns para tal inserção encontramos um de caráter psicológico, o “desenvolvimento de habilidades cognitivas” como talvez o mais relevante nos discursos educacionais. Para além dos aspectos cognitivos, outra perspectiva é defender que o jogo deve ser inserido em escolas por seu aspecto ético-político. A partir dos escritos de Hannah Arendt, Jacques Rancière e José Sérgio Fonseca de Carvalho, refletimos que a prática do jogo de xadrez é portadora de atos que cultivam virtudes públicas, tais como solidariedade, tolerância, respeito e igualdade. Além disso, jogar uma partida é uma forma de verificar a igualdade das inteligências, como explicitada na obra “O mestre ignorante”, de Rancière. A inteligência aqui é entendida como uma potência a ser atualizada, como um ponto de partida, uma crença política, que se verifica no ato em que ela se manifesta. Sendo assim, além de ser uma tradição pública, o jogo de xadrez carrega também a potência de vivenciar virtudes públicas em sua prática e, portanto, ao vivenciá-las, ser fonte de aprendizado das mesmas. O Jogo de Xadrez torna-se herança viva de princípios éticos ligados à vida pública, atualizados constantemente a cada partida ou torneio.