A palavra ‘metafísica’ na filosofia contemporânea tem um uso equívoco, mais exatamente: caótico. Em consequência disso, usos derivados como ‘não-metafísico’, ‘antimetafísco’ e ‘pós-metafísico’ não têm um sentido claro. O presente artigo não intenciona criar clareza sobre esta situação complicada. Com vista à sua finalidade, ele só focaliza o sentido que Habermas confere à palavra ‘metafísica’ e ao seu pensamento, ao qualificá-lo como ‘pós-metafísico’. O artigo mostra que Habermas essencialmente identifica metafísica com a filosofia moderna da subjetividade e da consciência, tanto na perspectiva transcendental como na perspectiva do idealismo alemão absoluto. Assim, a palavra ‘pós-metafísico’, aplicada a Habermas, significa o que está além da metafísica, como esta é entendida por ele; não pode significar o que, na longa história da filosofia, foi chamado de “metafísica”. O artigo primeiramente investiga e critica detalhadamente os dois caminhos seguidos por Habermas para chegar à sua postura pós-metafísica. O primeiro é um enfoque histórico-filosófico que faz certa violência aos autores interpretados e que conduz Habermas à conclusão que o pensamento metafísico é claramente obsoleto. Este enfoque, repetidamente por ele exposto, parte sempre de Kant e tem como seu ponto de chegada a postura filosófica de Habermas mesmo. O outro enfoque tem um caráter temático baseado em duas assunções fundamentais e de grande alcance. Segundo a primeira assunção, de caráter metodológico, a razão e a racionalidade são entendidas e aplicadas com um sentido puramente e estritamente procedural (razão/ racionalidade comunicativa). A segunda assunção, relativa ao conteúdo, estatui que o único objeto temático apropriado da filosofia é a dimensão da interacão entre sujeitos humanos ou seja da práctica social ou comunicativa própria do mundo-da-vida. A mais importante secção do artigo, a secção 3, apresenta uma crítica mais pormenorizada do pensamento pós-metafísico de Habermas. Nela se investigam três temas centrais da filosofia habermasiana e se evidenciam três falhas fundamentais da sua postura pós-metafísica. O artigo mostra que se trata de posicionamentos ou temas filosóficos, para os quais Habermas, devido à sua posição pós-metafísica, não está capacitado a elaborar uma solução esclarecedora. O primeiro posicionamento ou tema é a não-elaboração de um conceito de Mundo (com “M” maiúsculo) como a dimensão que unifica e possibilita a relação entre a dimensão da verdade e a dimensão do mundo-como-a-totalidade-dosobjetos. O segundo posicionamento ou tema é o naturalismo fraco” defendido por Habermas em base de uma distinção não-esclarecida entre o “mundo natural” e o “mundo-da-vida”. O terceiro tema ou posicionamento, ao qual Habermas se tem dedicado especialmente nos últimos anos, é a conjunção ou conexão ambígua e obscura entre a rejeição incondicional da metafísica e a (re)avaliação da religião. Estes três temas ou posicionamentos constituem três dicotomias que permanecem sem esclarecimento no pensamento do filósofo alemão. Uma tentativa de esclarecê-las consistiria em elaborar um conceito irrestrito de razão ou racionalidade e de teoria e de tematizar um conceito de Mundo como a dimensão que abarca os dois polos de cada uma das dicotomias. A execução desta tarefa teria como resultado uma teoria, à qual, em termos tradicionais, se deveria atribuir um estatuto metafísico.Abstract: The term ‘metaphysics’ is used in contemporary philosophy equivocally or, more precisely, chaotically. As a consequence, uses of such derivative terms as Anonmetaphysical”, “antimetaphysical” and “postmetaphysical” are also chaotic. This paper makes no attempt to bring order to this chaos. Its focus is only on Habermas’s understanding of metaphysics and of his own thinking as postmetaphysical, in his sense. It shows that he often comes close to identifying metaphysics with the modern philosophy of subjectivity or consciousness. This makes clear that the term “postmetaphysical,” as Habermas uses it, means only, “beyond what Habermas calls ‘metaphysics’”— hence, most importantly, “beyond Kantian and post-Kantian philosophies of subjectivity.” It cannot mean, “beyond everything that, in the history of philosophy, has been called ‘metaphysics.’” The paper first examines and criticizes in detail Habermas’s two ways of arriving at and characterizing and explaining his postmetaphysical position. The historico-philosophical path takes the form of severely truncated considerations of the history of philosophy that lead him to conclude that metaphysical thinking is utterly obsolete; these considerations almost always begin with Kant and end with Habermas himself. The thematic path consists of two fundamental and far-reaching assumptions. According to his methodological assumption, reason and/ or rationality has a purely procedural character. His contentual assumption is that the dimension of social interaction and communicative practices, the human lifeworld, is the only real subject matter for philosophy. Section 3, the most important section of the paper, presents more narrowly focused critiques of Habermas’s postmetaphysical thinking. It addresses three central problems in his philosophy, and reveals highly significant shortcomings of his postmetaphysical philosophical position. It shows extensively that his treatments of these problems put him on paths that he cannot follow to their ends because of the narrow limits of his postmetaphysical approach. The first problem is the lack of a concept of World (with a capital “W”) as the unity of the dimension of truth and the dimension of world-as-the-totality-of-objects43.3.2.3 The missing concept of World (capital-W)) as the unity of truth dimension and world-as-the-totalityof-objects; the second problem is his weak naturalism and his unclarified distinction between the natural world and the lifeworld; the third problem is his ambiguous and incoherent conjunction of the rejection of metaphysics and the (re)evaluation of religion. These three problems involve dichotomies Habermas leaves unexplained. Explaining them would require him to elaborate non-restricted concepts of reason/rationality and theory, and to thematize the World, i.e., the dimension encompassing both poles of the dichotomies. Such elaboration and thematization would yield a theory that would be, in traditional terms, metaphysical.