Proliferam hoje os estudos de intertextualidade que ligam a Bíblia à Literatura. «Infinita intertextualidade», diz Pierre Gisel, e, de facto, assiste-se à confirmação do amplo estatuto seminal que a Bíblia desempenha na cultura e imaginário ocidentais. A Bíblia é palavra de Deus, na medida em que nela a revelação divina encontra uma singularidade de dicção. Mas a Bíblia não deixa de ser palavra, corpo e corpus onde o que existe é palavra. Não podemos perder de vista a inteligência literária da Bíblia, que é também a sua natureza. O modo como a Bíblia (ex)põe a palavra não é simplesmente um veículo neutro e utilitário para a mensagem, mas é sim protagonista de uma verdadeira poética. Isto faz dela um monumental ateliê de escrita, uma oficina de experimentação linguística e acústica que é preciso conhecer.ABSTRACT: There proliferate today intertextuality studies linking the Bible to Literature. “Infinite intertextuality”, says Pierre Gisel, and indeed we are seeing confirmation of the broad seminal status that the Bible plays in Western culture and imagination. The Bible is God’s word, in the measure that, in it, divine revelation encounters a singularity of diction. But the Bible does not cease to be word, body and corpus, where what exists is word. We must not lose sight of the literary intelligence of the Bible, which is also its nature. The way in which the Bible (ex)poses the word is not simply a neutral and useful vehicle for the message, but is rather the protagonist of a real poetics. This makes it a monumental writing workshop, a workshop of linguistic and acoustic experimentation which is necessary to know.
David Lyle Jeffrey, In the Beauty of Holiness: Art and the Bible in Western Culture