O objetivo do trabalho é analisar como o Oriente figura nos escritos de Marx. Partimos das contribuições de Edward Said que identifica Marx como um autor orientalista, para averiguar em que medida o palestino acerta em seu diagnóstico. Said parte dos escritos de Marx de 1853 a respeito do colonialismo britânico na Índia e chega à conclusão que o alemão, assim como toda a intelligentsia europeia do século XIX, enxerga o Oriente como um local estático, bárbaro e violento, em oposição à Europa, onde se localizaria a civilização. Neste sentido, embora matizado pelas condenações de cunho moral das atrocidades cometidas pelos colonizadores britânicos, Marx observa as perspectivas futuras da colonização por um viés em última instância positivo. Influenciado por uma filosofia da história hegeliana, Marx entende que, se a revolução comunista é o estágio final da história, tanto melhor que os países periféricos sejam tragados para o progresso e para a história universal pelas metrópoles. Haveria, de fato, um sentido na história e o colonialismo colocaria nela povos até então “fixos”, estanques. Said, porém, se limita aos artigos sobre a Índia de 1853. Gostaríamos, neste trabalho, de explorar textos de Marx sobre a China do mesmo período, além dos escritos da segunda metade da década de 1850 sobre os dois países e comparar a análise marxiana a respeito da situação indiana e chinesa nestes dois momentos distintos. A partir daí, procuraremos responder se a hipótese saidiana de inclusão de Marx como autor orientalista se sustenta ou não.
Abstract: The purpose of the paper is to analyze how the East figures in Marx's writings. We start with the contributions of Edward Said who identifies Marx as an Orientalist author, to ascertain to what extent the Palestinian is correct in his diagnosis. Said departs from Marx's writings of 1853 on British colonialism in India, and he comes to the conclusion that the German, like the whole European intelligentsia of the nineteenth century, sees the Orient as a static, barbaric and violent place, as opposed to Europe, where the civilization would be located. In this sense, although tempered by the moral condemnations of the atrocities committed by the British settlers, Marx observes the future prospects of colonization by an ultimately positive bias. Influenced by a Hegelian philosophy of history, Marx understands that if communist revolution is the final stage of history, so much better that peripheral countries are swallowed up by progress and put into the universal history by metropolises. Indeed, there would be a meaning in history, and colonialism would place in it peoples that were previously "fixed", watertight. Said, however, is limited to the articles on India of 1853. We would like to explore Marx's texts about China from the same period, in addition to the writings of the second half of the 1850s on the two countries, and compare Marxian analysis about the Indian and Chinese situation in these two different moments. From there, we will try to answer if the saidian hypothesis of inclusion of Marx as orientalist author supports or not.
Key words: Marx; Orientalism; Colonialism.
Recebido em: dezembro/2018.
Aprovado em: maio/2019.