Julianne Carvalho Dias Gaudio
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Susana Cristina Aidé Viviani Fialho
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Sarah de Souza Almeida
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Caroline Alves de Oliveira Martins
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Isabel Cristina Chulvis do Val
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Introdução: A úlcera de Lipschütz é caracterizada por úlceras vulvares dolorosas, com revestimento fibrinoso ou exsudato acinzentado. Tem predileção por pequenos lábios. O quadro é de início súbito, afetando mulheres jovens, que na maioria não iniciaram a vida sexual, e com resolução espontânea em semanas. Pode ser desencadeada por primoinfecções bacterianas e virais. O diagnóstico geralmente se dá por exclusão de outros diagnósticos mais comuns, como infecções sexualmente transmissíveis (IST), traumas e doenças autoimunes. Relato de caso: Paciente de 12 anos, encaminhada ao hospital universitário por lesão vulvar de início há uma semana, com evolução para ulceração de grandes lábios, dor e edema local, além de odor fétido, e interrogada sobre abuso sexual. Não apresentava história de febre, outros sinais e sintomas associados, uso recente de medicações ou sexarca e menarca. Mãe negava internações prévias, doenças crônicas, uso de medicações regulares ou alergias. Exame clínico da genitália feminina com edema e hiperemia em grandes lábios, úlceras associadas a tecido fibrinoso e necrótico. Hímen e região anal de aspectos preservados. Linfonodos palpáveis em cadeias inguinais bilaterais, 1-2 cm, móveis, fibroelásticos, indolores à palpação, sem sinais flogísticos. Investigação para agentes etiológicos como HIV, sífilis, hepatites B e C, herpes simples, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, tuberculose, toxoplasmose, SARS-CoV-2, cultura da lesão, investigações reumatológica e oftalmológica. Todos os rastreios mostraram-se negativos. Iniciou-se tratamento com corticosteroide oral (prednisona 40 mg), que levou à melhora progressiva das lesões, à redução da dor e à cicatrização das úlceras. Conclusão: Revisão sistemática a respeito da úlcera de Lipschütz que incluiu 158 casos demonstrou que a maior parte ocorria em idade inferior a 20 anos e era associada à inatividade sexual. As lesões eram de 1 a 3 cm, dolorosas, com 1 cm de largura ou mais, bem delimitadas, com centro fibrinoso e necrótico e distribuição simétrica. Havia desordem miccional e linfonodos inguinais aumentados em parte considerável dos casos. Ocorreu concomitantemente a outra doença infecciosa em 139 casos, sendo a mononucleose a mais frequentemente detectada, seguida por espécies de micoplasma. A doença foi resolvida em três semanas ou menos. A paciente em questão apresentou quadro clínico e evolução da doença compatíveis com a descrição da literatura. A úlcera de Lipschütz é um importante diagnóstico diferencial para a população pediátrica e adolescente, podendo gerar angústia e suscitando a avaliação para abuso sexual e IST. Destaca-se importância de equipe multiprofissional, além do tratamento clínico como cuidados de higiene local, analgesia, uso de anti-inflamatórios e/ou corticosteroides tópicos ou orais em caso de inflamação intensa, além do tratamento de agente infeccioso, quando identificado. O presente trabalho traz uma atualização sobre os seus principais aspectos epidemiológicos, clínicos e diagnósticos a fim de favorecer as boas práticas emsaúde.