“Este é o mundo errado” – elementos para uma utopia política feminista

Este artigo busca salientar os elementos utópicos comuns entre as obras de Christine de Pizan, A cidade das damas, e de Charlotte Perkins Gilman, Terra das mulheres, em vista de uma utopia política feminista, cujo valor central reside tanto num projeto de autonomia filosófica e literária quanto naquilo que tenho defendido para as utopistas e as não utopistas que escrevem ao longo da história da filosofia, como constituindo uma efetiva política do texto, da escrita e da linguagem com as obras realizando em ato uma defesa das capacidades cognitivas, imaginativas e políticas das mulheres.

Christine de Pizan e a educação de mulheres no alvorecer da modernidade

Discussões sobre a figura da mulher, ou das mulheres, cresceram no campo da história nas últimas décadas, reforçando produções que repensaram o modo de contar sobre estas agentes históricas. Contudo, a relação de produção histórica em que se fabricavam significados por vezes indiferentes a tais atrizes modificou-se, passando estas últimas a fazerem parte do círculo dos temas atuais da academia. Propomo-nos, então, a trazer a reflexão sobre a educação feminina e as múltiplas significações que esta constrói a partir dos condicionantes associados à existência social da mulher. Neste sentido, será analisada a perspectiva sobre educação de mulheres de uma figura que debateu e compartilhou a cena com os estudiosos do início do século XV, Christine de Pizan (1364-1430), criada na corte francesa de Carlos V. Em A Cidade das Damas, a autora fez reivindicações em nome das mulheres, afirmando que a diferença e desigualdade entre homens e mulheres era relativa ao espaço que cada um recebia.

Christine de Pizan: Razão e a educação das mulheres na Cidade das Damas

Trata-se de, seguindo a exposição de Christine de Pizan na Cidade das Damas, apontar os principais argumentos para desconstruir a imagem das mulheres tal como consta nos escritos de filósofos, moralistas e escritores de modo mais geral. Pretende-se, portanto, evidenciar a estratégia e os elementos argumentativos da autora para desconstruir a concepção de feminino como moralmente fraco e intelectualmente desfavorecido. Tal feito tem consequências relevantes e pretende-se indicar sua relação com os pressupostos da educação das mulheres. Por fim, objetiva-se destacar a contribuição de Christine de Pizan à filosofia, aos escritos femininos e, sobretudo, às mulheres.

The Miroir des dames, the Chapelet des vertus, and Christine de Pizan’s Sources

This chapter offers a reading of the Othea Epistre, an early work by Christine de Pizan. It has been generally supposed that Christine was influenced by a text called the Fleurs de toutes vertues, as the Othea seemingly borrows a great deal from it. This chapter tests this assumption, widely accepted in the scholarship, by questioning why it has generally been assumed that the Fleurs predates the Othea. The chapter argues that there is little evidence that the Fleurs predated Christine’s text. Instead, deploying philological analysis, the chapter shows that it is much more likely that the anonymous author of the Fleurs borrowed from the Othea.