<p>O objetivo deste artigo é analisar as redes familiares dos antepassados dos dois primeiros capitães da Associação de Congada e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês nas últimas décadas da escravidão em Piedade do Rio Grande, Minas Gerais. Pretende-se apresentar as alianças, conflitos, negociações e estratégias encontradas por essas famílias escravas e libertas, bem como os caminhos percorridos no aprendizado devocional ligado à Irmandade do Rosário, na cidade vizinha a Piedade, Ibertioga. Os descendentes das famílias dos dois capitães buscaram, desde o pós-Abolição até o tempo presente, ressignificar o passado escravista vivido pelos seus parentes e comemorar a liberdade, através dos cantos, ritmos, danças, músicas e performances realizadas nas festas de Congada e Moçambique – também conhecidas como festas de maio – ao longo dos últimos noventa anos. Por fim, busca-se demonstrar que “foi quando estava acabando o tempo dos escravos” que a última geração do cativeiro de Piedade, entre escravos e livres, deixou como legado às gerações futuras as experiências sentidas e sofridas no tempo da escravidão, com as redes de proteção e os conflitos inerentes a esse período.</p><p><strong>Palavras-chave</strong>: famílias escravas | libertos | escravidão | Minas Gerais</p><p> </p><p><strong>Abstract:</strong></p><p><em>This article analyzes the family networks created by the ancestors of the two first captains of the Associação Congada e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês during the last decades of slavery in Piedade do Rio Grande, Minas Gerais, Brazil. I show the alliances, conflicts, negotiations and strategies utilized by the families of slaves and freed people, as well as the paths taken in devotional learning at the Irmandade do Rosário, in Ibertioga, a nearby city. From the Post-Abolition period until the present, the two captains’ descendants have sought to resignify the history of slavery experienced by their relatives, celebrating their freedom through songs, rhythms and dances performed during the Congada e Moçambique celebrations (also known as the “May Festivities”). Lastly, I argue that “when slavery was ending” in Piedade, the last generation to live through those times, both enslaved and freed people, left their experience of suffering as a legacy for the future generations, including the networks of protection and conflicts inherent to that period.</em></p><p><em><strong>Keywords</strong>: enslaved families | freed people | slavery | Minas Gerais</em></p>