RESUMO:
No século XX, fenómenos como a arte de massas - em particular o cinema - surgem concomitantemente a novas formas de relação entre poder político, ideologia, arte e estética. Com a Revolução Russa de 1917, e, mais tarde, os regimes fascistas que se espalham pela Europa, a alternância entre a experimentação estética arrojada e o arregimentar da arte à propaganda tornam-se realidades que, de um ou outro modo, impõem aos artistas alguma forma de posicionamento. Neste processo, é frequente as representações do passado servirem para possibilitar um certo discurso acerca do presente, sobretudo quando as representações directas deste se tornam «politicamente problemáticas» (i.e. perigosas). Tal é o que sucede com o próprio conceito de Idade Média, desde a sua origem. Este artigo pretende justamente explorar o modo como as representações cinematográficas da Idade Média servem diferentemente de veículo à de expressão de concepções estéticas, artísticas e políticas em dois filmes produzidos em países do ex-bloco socialista, onde as tensões e alternâncias de que falamos se tornam, mais do que uma questão meramente teórica, uma questão de sobrevivência: Alexander Nevsky de Serguei Eisenstein (1938) e Márketa Lazarová de František Vláčil (1967).
ABSTRACT:
In the 20th century, phenomena like that of mass art – particularly cinema – emerge in tandem with new forms of relationship between political power, ideology, art and aesthetics. With the Russian Revolution of 1917, and, later, with the spread of fascist regimes across Europe, alternating between bold aesthetic experimentation and the use of art as propaganda become factors that compel artists, in one way or another, to take some sort of stand. In this process, representations of the past are often employed so as to make it possible to speak about the present, especially when direct portrayal of the latter becomes ‘politically problematic’ (i.e. dangerous). Such is also the case with the concept of ‘middle ages’ itself, from its inception. Our aim in this paper is precisely to explore how representations of the middle ages serve, in different ways, as a vehicle for the expression of aesthetic and political views, in two films made in countries of the former socialist bloc, where the tensions and shifting pressures we mentioned become, more than a purely theoretical issue, a matter of survival: Sergei Einsenstein’s Alexander Nevsky (1938) and František Vláčil’s Márketa Lazarová (1967).