O Projeto Quebra-Anzol realizou, nas últimas quatro décadas, pesquisas intensivas e sistemáticas de campo na região do Triângulo Mineiro, a fim de buscar estabelecer a história de longa duração da ocupação territorial Kayapó Meridional. Particularmente, o sítio Santa Luzia, localizado em Pedrinópolis/MG, representa o sítio lito-cerâmico mais antigo, com datações de cerca de 1830 ± 183 anos AP. A cultura material local revela o grande domínio da paisagem, bem como um grande adensamento populacional decorrente da agricultura. Assim, é possível contrapor o discurso colonialista, que ora justificou as então chamadas “guerras justas”, ora justificou outras formas de dominação, como os aldeamentos. A análise de documentos históricos, como legislação, cartas, ou mesmo levantamentos corográficos, juntamente com os dados arqueológicos, permite compreender a história de longa duração a partir de diversos momentos. Utilizando a agência dos objetos se realiza então um projeto de descentramento, do colonizador para o colonizado, dos portugueses para os indígenas. A Arqueologia se constitui como uma ciência de destruição, de morte, mas também de resistência de vida dos povos indígenas, que lutam ainda hoje diante de uma colonização que persiste, por exemplo, nas invasões de terras indígenas por latifundiários. Colonização esta que, sob o olhar não-colonial, não é nem de exploração e nem de povoamento, como aparece nos livros didáticos, mas sim de invasão, de guerra.