Com base na Teoria de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1995), apresento uma análise diacrônica das interrogativas-Q do Português Europeu (PE) seguida de uma comparação com as mesmas estruturas no Português Brasileiro (PB). Paralelamente, faço uma breve análise dos padrões de interrogativas-Q em entrevistas sociolinguísticas gravadas em dois momentos (anos 1970/80 e 2010). A hipótese inicial, a partir de descrições recentes de base teórica, era a de que a ordem QVS no PE seria a mais frequente, enquanto a ordem QSV estaria sempre condicionada à presença da clivagem. Sujeitos de 1ª. e 2ª. pessoas bem como os anafóricos seriam preferencialmente nulos no PE, um sistema descrito como de sujeito nulo consistente. Nesse aspecto, o PE teria um comportamento diferente do PB, que perdeu a ordem QVS, hoje atestada apenas em estruturas com verbos inacusativos, desde que o sujeito seja um DP lexical, uma mudança paralela à remarcação do valor do Parâmetro do Sujeito Nulo no PB. A amostra analisada para o estudo diacrônico é constituída de peças portuguesas escritas ao longo dos séculos 19 e 20, comparável à amostra brasileira que nos serve de ponto comparação. No caso das entrevistas sociolinguísticas, foram utilizadas as amostras NURC e Concordância para o PB, e Cordial-Sin e Concordância para o PE. A metodologia para o tratamento dos dados segue o modelo variacionista (TAGLIAMONTE, 2006; GUY E ZILLES, 2007). Os resultados mostram que o PE prefere o padrão QV, com sujeitos nulos; quanto aos sujeitos expressos, a ordem QVS é o padrão preferido; observamos, no entanto, uma curva descendente no último quartel do século 20, sugerindo o início de uma competição com QSV, desencadeada pela entrada da clivagem, a partir da segunda metade do século 19. Uma vez introduzida no sistema, a clivagem se expande para os três padrões de interrogativas-Q, o que é confrmado pelos dados da fala contemporânea.