<span>O objetivo principal deste ensaio é o exame de algumas reflexões teóricas sobre a tradução inspiradas pelo feminismo contemporâneo e amparadas numa reflexão sobre a linguagem de vocação supostamente pós-moderna, centrado, sobretudo, em "</span><em>Writing in No Man's Land: Questions of Gender and Translation"</em><span>, de Susan Bassnett, publicado recentemente num periódico brasileiro. Como pretendo argumentar, sua proposta de uma "teoria de tradução orgásmica" - que pudesse transcender os modelos tradicionais "colonialistas" e "machistas" - e defendida, também, em termos semelhantes, por teóricas tais como Lori Chamberlain, Barbara Godard e Susanne de Lotbinière-Harwood, entre outras, ao invés de se opor frontalmente à "violência" das teorias que rejeita acaba por endossar algumas das mesmas estratégias que tanto combate nas concepções de ascendência patriarcal. Como tenho proposto, a grande contribuição que as teorias de linguagem contemporâneas (vinculadas ao pós-modernismo e ao pós-estruturalismo) podem oferecer à reflexão sobre a tarefa da tradutora, ou do tradutor, é exatamente a noção de que toda tradução - como todo ato interpretativo - por se constituir inevitavelmente numa forma de re-escritura, numa interferência eminentemente autoral, será também, "violenta", ou seja, implicitamente se apoderará da escritura de outrém e sobre ela imporá seus próprios significados, ainda que tenha como única meta a proteção ao chamado "original". Assim, para que uma teoria de tradução feminista possa ser também pós-moderna terá que reconhecer, em primeiro lugar, que o prazer da tradutora, ao se apossar do texto que traduz e ao interferir explícita e implicitamente em sua rede de significados, está mais ligado ao prazer autoral de quem imagina poder inaugurar o significado do que à satisfação de unia "colaboração" supostamente pacífica e "orgásmica" com o "original".</span>