Utilizaremos a metáfora da Rosa de Jericó para entrelaçar duas questões que a menina a quem chamaremos Rosa nos apresentou, com invulgar capacidade expressiva e transformativa. De um lado, a capacidade de sobrevivência psíquica (resiliência? competências inatas?) perante um ambiente traumático de violência, abandono, negligência, ruturas e descontinuidades. De outro, a hipótese de que as inúmeras instituições que acolheram este fio de descontinuidade funcionaram como uma pele psíquica (Bick, 1968/1991), um envelope institucional (Houzel, 2010), e como «anjos no quarto do bebé» (Lieberman et al., 2005), que permitiram que Rosa se nutrisse o suficiente para chegar, sem se fraturar psiquicamente, ao acompanhamento psicoterapêutico, também em instituição. Finalmente, foi este que lhe permitiu reintegrar-se progressivamente: voltar ao deserto, atravessá-lo acompanhada, preparar-se para a busca de um terreno-família, onde pudesse finalmente desenvolver-se. Tentaremos ilustrar essa concatenação entre a construção da subjetividade, o papel das instituições de suporte e o trabalho psicoterapêutico em instituição.