Um dos objetivos deste artigo é apresentar a relação entre política e palavra proposta por Adriana Cavarero em "Vozes plurais". Sob influência declarada de Hannah Arendt, Cavarero coloca a singularidade no centro de seu pensamento, e o segundo objetivo deste artigo é mostrar que a singularidade é uma ideia chave para a crítica do patriarcado. Uma análise fina de Platão e Aristóteles mostra que eles dividiram o logos em um aspecto sonoro e um aspecto lógico e, ato contínuo, soterraram a voz sob o semântico estabelecendo uma hierarquia que marcaria toda a tradição. A diferença de gênero se uniria a esta hierarquia, pois a tradição atribuiria a voz à mulher e o semântico ao homem. Carnal, sensual e particular, a voz e a mulher se mantiveram à sombra do espiritual, racional e universal garantidos pelo homem e seu logos sem voz. Em um passo adicional, Cavarero apresenta uma fenomenologia vocálica da unicidade a fim de mostrar que a voz porta a singularidade humana. Diante disto, faz-se necessário reconduzir a palavra à sua raiz vocálica, especificamente acústica e tradicionalmente feminina, a fim de elaborar uma política pós-patriarcal.