Dialeteias são contradições verdadeiras. Dialeteísmo é a visão de que há dialeteias e dialeteístas são aqueles que defendem tal visão. Uma das principais motivações para o dialeteísmo encontra-se nos paradoxos semânticos, como o paradoxo do Mentiroso. A sentença do mentiroso, na abordagem dialeteísta, instancia uma dialeteia. O problema é: como aceitar contradições verdadeiras? Como dialeteísmo é a visão que algumas, mas não todas, contradições são verdadeiras, o dialeteísmo demanda um tratamento paraconsistente. Porém, não é qualquer sistema paraconsistente que pode ser aplicado ao dialeteísmo. A interpretação do símbolo de negação deve ser um operador formador de contradição (ofc) com o sentido relevante para a aplicação dialeteísta. Especificamente, na versão de dialeteísmo que discutiremos nesse artigo, defendida por Graham Priest, temos que, para que o dialeteísmo faça sentido, a negação da lógica subjacente deve atender a dois requisitos: (i) ser um ofc e (ii) não ser explosiva. A Lógica do Paradoxo (LP) tem sido apontada como a lógica adequada ao dialeteísmo. Veremos que, a fim de lidar com contradições sem trivialidade, dialeteístas “esticam” a verdade de modo que a verdade possa incluir, em alguns casos, a falsidade também. Nesse caso, haveria sentenças verdadeiras e falsas, chamadas de aglutinações de valores de verdade (truth-value gluts). Em LP, aglutinações de valores de verdade são fundamentais para garantir os requisitos (i) e (ii). Todavia, vamos argumentar que tal procedimento de esticar a verdade, permitindo aglutinações, garante a paraconsistência ao custo de distorcer a interpretação da noção de contradição envolvida no dialeteísmo. Especificamente, tal distorção enfraquece a interpretação da negação comprometendo o sentido de contradição relevante para o dialeteísmo. Vamos argumentar que as próprias restrições dialeteístas a uma compreensão adequada do Mentiroso mostram que as condições (i) e (ii) são incompatíveis e que, com isso, o projeto dialeteísta enfrenta consideráveis obstáculos.